A inovação digital para a Saúde teve uma explosão de popularidade no mundo pós-pandémico. Se anteriormente, os inovadores já antecipavam os seus benefícios, depois juntou-se o reconhecimento dos profissionais de saúde e decisores. Saúde digital tornou-se um termo popular, não de apenas quem desenvolve tecnologia, mas também de quem a utiliza e de quem dela pode beneficiar.

Vários estudos apontam para a relevância da saúde digital na equidade do acesso aos serviços de saúde, bem como na sustentabilidade dos serviços universais de saúde. Porém, desde as minhas primeiras experiências profissionais a trabalhar na área de engenharia biomédica observo que, ao contrário de muitos outros contextos onde vemos uma explosão de adoção tecnológica por parte dos cidadãos, no que se refere às aplicações e dispositivos digitais que suportam serviços de saúde centrados no cidadão ainda estamos muito aquém das possibilidades!

É certo que, no mundo pós-COVID19, a ideia de ter um smartwatch, ou recorrer a uma app de saúde mental, chatbots para comunicar com um profissional de saúde ou um serviço de telemonitorização em casa já não é novidade. No entanto, é desapontante como muito poucos cidadãos utilizam estas aplicações digitais em serviços de cuidados de saúde. Por outras palavras, a adoção da inovação digital para a saúde, por parte dos cidadãos e dos sistemas de saúde, é muito baixa face ao seu dinamismo na atualidade!

A baixa adoção não é por falta de oferta! Há por todo o mundo inovadores entusiastas e brilhantes a desenvolver ideias e soluções digitais com imenso potencial para a saúde. Porém, apesar de haver uma miríade de soluções, o cidadão comum não sabe o que vale a pena usar. Nem os profissionais de saúde, que não têm informação suficiente para aconselhar os seus doentes ou os decisores que gerem os recursos disponíveis para a saúde das populações. Por outras palavras, não sabemos como medir o valor dessas soluções.  Não temos mecanismos ágeis para avaliar como elas podem impactar as pessoas e os sistemas de saúde.

Alguns países na Europa começaram a experimentar modelos de prescrição e financiamento de soluções digitais de saúde. Estes modelos diferem entre países. Os maiores mercados da Europa, Alemanha e França, têm modelos baseados em “pistas rápidas” (fast-track), um período até 12 meses em que um dispositivo médico certificado pode ser prescrito e financiado pelo sistema nacional de saúde. Durante esse período, as empresas comprometem-se a desenvolver estudos, validados cientificamente, que comprovem o valor das suas soluções para a saúde dos seus utilizadores ou para o sistema de saúde. O EIT Health, em Portugal, lançou um white paper com uma reflexão e call to action para o contexto nacional.

Este modelo de fast-track é inovador e pretende apoiar o reembolso de soluções digitais nos cuidados de saúde. Para acompanhar esta estratégia, é necessária inovação nas metodologias de avaliação e validação, de acordo com as especificidades da inovação digital, no sentido de permitirem métodos ágeis e iterativos, tal que permitam integrar a aceleração inata ao desenvolvimento tecnológico. Também, é necessário financiamento para certificação e avaliação, de modo a permitir um mercado diverso, que gere ideias e oportunidades para sistemas de saúde sustentáveis e universais, e não um mercado limitado às soluções dos giant tech.

Como avaliar o valor das intervenções digitais de saúde? Como desenvolver soluções digitais com mais valor para os cidadãos e para os sistemas de saúde? Como desenvolver programas de pagamento baseados em valor para estas inovações digitais em saúde? Estas perguntas moveram a equipa do VOH.CoLAB para o desenvolvimento da worthmed, uma ferramenta de colaboração entre inovadores, investigadores, cidadãos e profissionais de saúde que se queiram juntar. Vamos criar conhecimento e apoiar os inovadores em torno da avaliação das suas soluções, com foco no valor para as pessoas e a sociedade!

“Qual é o valor das soluções digitais para a saúde?” É a pergunta a que estamos a querer responder.

 

Referências