A entrada do Coronavírus em Portugal acarretou um clima de incerteza a todos os setores. Na Saúde, acresceu um vasto leque de desafios.
Para auxiliar o sistema de saúde na resposta aos efeitos da pandemia, as empresas portuguesas com atuação na saúde digital, das grandes às micro, mobilizaram-se rapidamente, evidenciando o segredo do sucesso em Saúde: colaboração.
Oferta tecnológica para combate ao Coronavírus
Em traços gerais, a montra de projetos europeus de saúde digital espelha a capacitação da Europa para dar resposta aos desafios atuais dos sistemas de saúde. Essa capacitação, que engloba uma vasta oferta de meios digitais, já existia no contexto anterior e é independente da pandemia COVID-19 [1], [2].
Considere-se o consórcio europeu ACTIVAGE, com quem o VOH CoLAB está a desenvolver um estudo piloto. Este projeto H2020 visa a promoção do Envelhecimento Ativo e Saudável através de tecnologias de Internet of Things (IoT) [3]. Tipicamente, no desenho e implementação das soluções propostas por este consórcio são envolvidos todos os intervenientes da cadeia de valor, desde os fornecedores de tecnologia (oferta) aos utilizadores finais (procura), permitindo deste modo [4]:
- O matching entre as necessidades dos cidadãos e os produtos da oferta;
- A prestação mais eficiente de serviços de saúde;
- A resposta integrada e eficaz às comunidades.
Como exemplo, em Portugal, antes da COVID-19 eclodir, a Sword Health já disponibilizava um serviço de Telereabilitação no domicílio, a Knok Healthcare dispunha de uma plataforma de Teleconsulta e a HopeCare monitorizava remotamente doentes através de um sistema de analítica.
Quando surgiu a pandemia COVID-19, as tecnológicas portuguesas de saúde digital estavam, pois, preparadas para enfrentar as adversidades e proporcionar uma oferta ajustada à nova realidade.
Para tal, reagiram de forma ágil e posicionaram-se oportunamente no mercado, encontrando estratégias de colaboração e potenciando uma oferta de valor acrescentado [2].
A título de exemplo, refira-se as seguintes iniciativas criadas em Saúde Digital no contexto COVID-19:
- O movimento tech4COVID19 reuniu startups, empresas e profissionais independentes do ecossistema digital português para, em regime voluntário, orquestrar novas respostas, nomeadamente:
- O chatbot gratuito Coronavírus: assistência médica online, para encaminhamento ao atendimento online de casos suspeitos, desenvolvido pela Zaask e Visor.ai;
- A Covidografia, plataforma que permite o mapeamento dos sintomas por áreas geográficas para controlo das redes de contágio e contenção do surto;
- A teleconsulta grátis na BetterNow, doctorino ou na solução da Knok Healthcare, possibilitando o acesso a cuidados de saúde primários, tendo presente os objetivos de isolamento social e de redução do congestionamento nos hospitais e na linha SNS24.
- No combate ao isolamento dos infetados, o grupo Lusíadas Saúde e a Outsystems desenvolveram o Todos por Um, uma progressive web app (PWA) que permite avaliar sintomas de suspeitos de COVID-19 através de um chat direto entre suspeitos de COVID-19 e profissionais de saúde;
- A Clynx disponibilizou gratuitamente a plataforma PhysioClynx – Telecare, possibilitando a telerreabilitação de doentes confinados que continuaram a precisar de acompanhamento remoto.
A preparação da oferta surpreendeu a procura
Condicionados pelas limitações dos serviços de atendimento presencial, os cidadãos foram forçados a procurar alternativas, baseadas em soluções de Telessaúde.
Do mesmo modo, os profissionais de Saúde ajustaram-se à nova realidade e, abandonando as habituais resistências, reconheceram as potencialidades do digital, não só para monitorização dos infetados, mas sobretudo para seguimento dos doentes crónicos que, continuando a precisar de cuidados próximos, justificavam uma assistência remota.
Esta alteração de comportamentos levou a uma mudança de paradigma no ecossistema da saúde, que foi bem-sucedida dada a oferta existente e a capacidade de reação do subsetor da Telessaúde, viabilizando a adaptação rápida dos serviços em toda a cadeia.
O reinventar das empresas e o reforço da colaboração
O valor aportado pelos meios digitais foi despertando progressivamente a atenção das entidades reguladoras da Saúde para a urgente necessidade de exploração das soluções de Saúde Digital disponíveis.
É neste novo contexto, caracterizado pela maior motivação para o uso de soluções de Telessaúde e pelo maior apoio das autoridades, que a procura evolui para novas exigências, o que levou as tecnológicas a ajustar o seu modus operandi, acelerando os processos de inovação interna e reforçando a comunicação e a colaboração.
Considere-se, neste âmbito, os seguintes exemplos:
- A Glintt disponibilizou, na sua solução hospitalar, a plataforma de teleconsulta da HopeCare;
- A TonicApp, em parceria com a IQVIA, agregou na sua app árvores de decisão para diagnosticar, tratar e referenciar (Projeto 25×5) e, em conjunto com a EBSCO, passou a disponibilizar informação técnica atualizada sobre o vírus para a comunidade médica;
- A Direção-Geral da Saúde (DGS) e a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) uniram esforços para desenvolver a plataforma Trace COVID-19, para vigilância e registo dos sintomas dos infetados e suspeitos, em autocuidados e ambulatório.
Medir o valor das iniciativas
Ao reinventar-se agilmente, as empresas de Saúde Digital revelaram sentido de missão com a sociedade e com a investigação em Portugal.
As iniciativas que surgiram abriram as portas à experiência do digital na Saúde, setor fortemente marcado pela fragmentação dos sistemas de informação e pelo monopólio das plataformas de registo de saúde e dos dados dos cidadãos.
Como podem, então, os sistemas de saúde aproveitar a oportunidade para se reinventar e integrar estas inovações nos seus serviços? E como podem estas soluções ir ao encontro das exigências das organizações de saúde e dos próprios cidadãos, nomeadamente em termos de resultados em saúde, privacidade e segurança? Adicionalmente, que novos modelos de financiamento devem ser desenhados para apoiar estas inovações?
É essencial monitorizar o valor das soluções e dos investimentos efetuados, de modo a avaliar, com rigor, o impacto da sua adoção por parte dos cidadãos e dos sistemas de saúde.
Com esta ambição, o Value for Health CoLAB está a trabalhar na recolha de indicadores de resultados que é necessário monitorizar no contexto atual de pandemia, tendo por base as dimensões de valor em Saúde: pessoal, técnico, alocativo e social [5].
— Sobre o autor —
Enquanto Gestora de Projeto, a Carolina trabalha diretamente com profissionais de saúde, doentes e investigadores, e analisa dados de saúde e socioeconómicos para monitorizar e apoiar a equipa técnica do VOH.CoLAB no desenvolvimento e implementação de projetos de Saúde Digital.
Referências
[3]https://www.activageproject.eu/docs/downloads/IoT LSP Programme eBook.pdf